TIMELINE

A HISTÓRIA DE UM EDIFÍCIO
A história de um edifício é sempre uma meia história: apenas podemos contar o que sabemos. Ora, neste caso vamos tentar que a história seja um pouco mais completa. Neste diário de obra colectivo participarão os principais intervenientes no seu processo de reabilitação. Daremos por encerrados os trabalhos, apenas quando devolvemos este pedaço de património portuense à vida. Aí, a história já será outra.


terça-feira, 16 de abril de 2013

CONVITE: OBRA ABERTA


O Dia Internacional dos Monumentos e Sítios é o pretexto para abrirmos esta obra situada no Centro Histórico do Porto. A reabilitação do Edifício Garrett, inserido no quarteirão das Cardosas, mesmo em frente da estação de S. Bento, ficou ao encargo de uma equipa interdisciplinar constituída por três gabinetes especializados: Swark - Encontrar, Projectar, Reabilitar; Floret - Oficina de Arquitectura, Lda e NCREP - Consultoria em Reabilitação do Edificado e Património, Lda. Neste sábado, dia 20 de Abril, daremos a conhecer o projecto em desenvolvimento para a reabilitação deste edifício. Seja bem-vindo à primeira de muitas sessões de obra aberta.

ENTRADA LIVRE

ORGANIZAÇÃO: Floret/NCREP/Swark
DATA: 20 de Abril
HORA: 15:00
LOCAL: Praça Almeida Garrett, nº 22 a 24 (frente Estação S.Bento), Porto
CONTACTOS: info@floretarquitectura.com / swark@swark.com.pt / geral@ncrep.pt

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

SWARK: O Viajante que chega à Cidade...



O Viajante que chega à Cidade pelo caminho-de-ferro, encontra uma praça rasgada pelo ruído de automóveis e pelo assobio dos semáforos que comandam a marcha de peões apressados.

Olhando à sua volta, conta nove ruas que confluem para a praça como gargantas. Umas sobem e outras descem, curvando-se em todas as direcções e levando a todos os lugares da Cidade.

Entre as ruas, sobram os edifícios, como enormes barcos petrificados que há muito tempo aportaram e aqui ficaram.

À sua frente, do outro lado da praça, uma muralha de casas estreitas e altas encaram-no silenciosas.

Uma delas, convida-o a entrar e a ouvir a sua História…

FLORET: Análise da pré-existência

Tectos de estuque trabalhado


Para dar início à operação de reabilitação deslocámo-nos ao edifício para conhecer em profundidade o seu estado de preservação e levar a cabo o levantamento de todos os elementos arquitectónicos. Este edifício, situado na Praça Almeida Garrett, é representativo da arquitectura burguesa portuense, mantendo intactas muitas das suas características originais tanto em termos construtivos, como no que diz respeito aos elementos decorativos. 

Tratando-se, como é típico nestes casos, de um lote estreito com cinco pisos e escada central, possui uma fachada composta de forma simétrica, simetria essa conseguida através do jogo de portas, janelas e varandas ao longo de todos os pisos. 

No seu interior conseguiu-se perceber que se trata de um edifício em razoável estado de conservação, sugerindo uma intervenção de reabilitação pouco intrusiva de modo a manter o máximo do existente. Um dos aspectos que nos chamou mais atenção foram os tectos em estuque trabalhados principalmente nas salas orientadas para a Praça Almeida Garrett. A primeira decisão foi que teríamos de desenvolver um projeto que garantisse a sua manutenção. 

É claro que a manutenção dos tectos e da própria estrutura do edifício iria depender do relatório a ser feito pela equipa de engenharia. Solicitamos então o levantamento estrutural de acordo com as nossas intenções: reabilitação intrusiva para manter o máximo. Foi elaborado o levantamento arquitectónico e após a conclusão favorável do relatório de inspecção e diagnóstico começou-se a trabalhar no estudo prévio de acordo com o programa pré-estabelecido pelo dono de obra: edifício de apartamentos t0 para arrendamento.


NCREP: Fase I - Inspecção e Diagnóstico

“O “projecto de restauro” deverá basear-se num conjunto de opções técnicas apropriadas e ser elaborado segundo um processo cognitivo que integra a recolha de informações e a compreensão do edifício ou do sítio. Este processo pode incluir o estudo dos materiais tradicionais, ou novos, o estudo estrutural, análises gráficas e dimensionais e a identificação dos significados histórico, artístico e sócio-cultural” (Carta de Cracóvia 2000). 

No caso do edifício Almeida Garrett 22-24, o NCREP – Consultoria em Reabilitação do Edificado e Património, Lda. seguiu uma metodologia centrada no conhecimento detalhado das construções, resultado de acções de inspecção e diagnóstico, e da análise do seu desempenho através de ferramentas de avaliação de segurança. A metodologia utilizada procura minimizar o impacto sobre as construções, num compromisso entre funcionalidade, segurança e salvaguarda do património. 

Nesse sentido, a intervenção do NCREP no edifício iniciou-se com a fase de inspecção e diagnóstico estrutural, com o objectivo principal de avaliar o estado de conservação da estrutura resistente, avaliando viabilidade da sua manutenção. Esta fase, que integrou os trabalhos descritos em seguida, pretendeu ainda servir de base de trabalho à elaboração dos projectos de especialidades de engenharia, e dar indicações relevantes ao projecto de arquitectura. 

Fases de inspecção e diagnóstico


i) Identificação do sistema construtivo e estrutural do edifício, através da caracterização dos elementos de alvenaria de pedra, de madeira, e de betão armado. Neste ponto fez-se uma análise dos elementos históricos existentes relativos à construção do edifício e a intervenções posteriores; 

ii) Ensaios in-situ relevantes para a caracterização do estado de conservação dos elementos estruturais de madeira, nomeadamente através da utilização dos seguintes equipamentos: a) Higrómetro, que permitiu medir o teor em água dos elementos de madeira, dando indicações acerca do potencial de ataque de agentes bióticos; b) Resistógrafo, que permitiu, através da realização de furos de diâmetro reduzido, avaliar o estado de conservação interno dos elementos de madeira; c) Formão, que permitiu avaliar de forma relativa a dureza da madeira e a existência de degradações superficiais; d) Martelo, que forneceu indicações semelhantes ao formão, através da apreciação do som de resposta obtido por percussão produzido pelo impacto nos elementos de madeira; 

iii) Execução de janelas de sondagem em pavimentos e paredes, de forma a caracterizar os materiais constituintes da estrutura (sempre que a informação obtida através das acções referidas no ponto anteriores se revelaram insuficientes); 

iv) Registo de danos estruturais e diagnóstico do estado de conservação da estrutura do edifício, incluindo a descrição das causas que estarão na sua origem. 

Gráfico obtido com o Resistógrafo - viga em bom estado de conservação (degradação superficial)


Em termos construtivos, o edifício obedece ao que era comum na sua época de construção: paredes de fachada e empena em alvenaria de granito (com espessuras variáveis entre 0,25m e 0,50m), paredes interiores em tabique (com espessuras de cerca de 10,0cm), e pavimentos e cobertura em estrutura de madeira de Castanho (Castanea Sativa Mill.). As vigas dos pavimentos apresentam secções transversais circulares de diâmetro de cerca de 20.0cm e espaçamentos médios de 0,60m e dão apoio ao soalho de Pinho (provavelmente Pinus Sylvestris). A cobertura é constituída por asnas, com elementos de secção transversal circular, que suportam o conjunto constituído por madres, cumeeiras, varas, ripado e telha. 

Os resultados obtidos na inspecção visual e nos ensaios não destrutivos realizados permitiram a identificação dos danos existentes e a intensidade e extensão de ataques de agentes bióticos, permitindo definir áreas de intervenção e a recomendação de medidas de reabilitação e de reforço estrutural. Refere-se que não foram observados danos estruturais relevantes no edifício, tendo-se verificado, ainda assim, alguma vibração dos pavimentos de madeira, característica comum neste tipo de estrutura. Foi também observada a degradação superficial de alguns elementos de madeira, nomeadamente na cobertura, devido ao ataque de agentes bióticos, nomeadamente insectos xilófagos de ciclo larvar (caruncho) e de fungos xilófagos. Na maioria dos casos estes ataques têm profundidades inferiores a 1,0cm, não colocando em causa o correcto funcionamento dos elementos estruturais. Como conclusão, e tendo por base os elementos recolhidos na fase de inspecção e diagnóstico, e a proposta do projecto de arquitectura, que não integra alterações espaciais e construtivas relevantes, refere-se que o edifício se encontra, a nível estrutural, em razoável/bom estado de conservação, sendo viável a manutenção integral dos elementos estruturais, através de acções de reabilitação e (ou) reforço estrutural de carácter pontual.